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Foto: Arquivo/DP |
Nos tempos em que o amor chegava atravs da esttica das rdios AM, Adilson Ramos foi o cupido que enfeitiou milhes de brasileiros com sucessos como Sonhar Contigo, Olga, Relgio e Fim de Festa. Mesmo na era dos streamings, seu posto de cone da msica romntica permanece intacto. Nesta segunda-feira (7), em seu aniversrio de 80 anos de vida e 65 de carreira, o cantor carioca radicado no Recife a prova viva que o verdadeiro romantismo no envelhece. Se eterniza.
E o seu primeiro amor, como no poderia deixar de ser, foi a msica. Aos nove anos de idade, recebeu do pai uma pequena sanfona de quatro baixos. “Quando abri, fiquei doidinho”, recorda Adilson em conversa exclusiva com o Viver. Suas primeiras melodias, que aprendeu com as canes de Orlando Dias, revelaram um talento precoce a ponto do seu pai, emocionado, tomar duas decises: matricular o menino no conservatrio de msica e o presentear com o tal acordeon maior que ele.
Na infncia, Adilson participou de um concurso de calouros em um parque suburbano do Rio. “O apresentador avisou ao meu pai que no dava para cantar de qualquer jeito. Mas me deixaram tentar. E todo mundo foi chegando, parando para ouvir”, destaca. Ele ficou em primeiro lugar e chamou a ateno de um produtor que o levou para uma apresentao no programa infantil “Clube do Guri”, da extinta Rdio Tupi, onde durante dois anos Adilson comeou a escrever, sem saber, o primeiro captulo de uma trajetria extraordinria.
Em seguida, ingressou no grupo vocal Os Cornetas ainda garoto. Mas em 1963, aconselhado pelo pai que atuava como empresrio, o jovem artista reuniu coragem para empreender voo solo. O primeiro fruto dessa deciso veio com um convite da RCA para gravar o LP Sonhar Contigo, composta em parceria com seu tio Armelindo Leandro. “Ele escreveu a letra depois de me ouvir assobiando a melodia”, revela Adilson. Mais que um sucesso, a cano se tornou sua identidade musical. “As pessoas no me dissociam dela, e eu tambm no. meu hino pessoal”, confessa o cantor.
Naquele mesmo ano, Adilson partiu em turn pelo Brasil para levar Sonhar Contigo a todos os cantos. “Onde eu chegava, as pessoas j sabiam quem eu era”, relembra. Foi assim que pisou pela primeira vez no Recife, para uma apresentao no programa Voc Faz o Show, da Rdio Jornal do Commercio. Mas o caminho at o estdio foi marcado por um engarrafamento inusitado — no eram carros que paravam o trnsito, mas fs. “Foi impressionante ver as pessoas nas caladas, acenando, me dando adeus, esperando o carro da rdio ar. Aquilo me marcou muito”, afirma, comovido.
Cansado das turns exaustivas – com rotas de at 60 cidades seguidas –-, Adilson encontrou um refgio inesperado em Pernambuco. O ponto de virada foi um “showmcio” em Goiana, na Zona da Mata Norte, seguido por convites de Gravat e Caruaru. Depois, a maioria dos seus shows aram a ser no interior do estado. Foi ento que veio a deciso: “Minha esposa ficava quase um ms sem me ver. A eu disse: 'Vamos mudar para o Recife". Dessa forma, o cantor ganhou um novo endereo — e um novo corao.
Adilson atribui toda a sua trajetria de sucesso ao pblico que sempre o acompanhou “Se sou Adilson Ramos com 65 anos de carreira, por causa dos meus fs. Eu termino o show, que geralmente dura duas horas, e o mais duas tirando fotos, dando autgrafo, ouvindo histrias. Fao questo. Porque sei que, s vezes, o sonho de algum simplesmente dar um abrao em mim”. E assim, revela-se um pacto entre artista e pblico: enquanto houver romnticos no mundo sonhando com ele, Adilson Ramos ter um palco.